O imaginário nas escolas de Reggio Emilia
A proposta pedagógica das escolas da infância de Reggio consiste em criar, constantemente, uma rede de comunicação e paz. Os diálogos desenvolvidos entre criança-criança, criança-professor e entre o grupo de professores são essenciais e diferem enormemente das escolas onde todos falam e ninguém ouve. Em Reggio, os professores entendem que as crianças falam para dizer algo, para se comunicar _ necessidade básica de qualquer ser humano_ e desenvolvem o que chamam de Pedagogia da Escuta, ou seja, as falas das crianças são registradas e se tornam parte da documentação dos projetos, relatórios e diários. Como a preocupação fundamental é a unidade entre educação e cultura, as crianças e a escola têm contato estreito com toda sua forma de representação: teatro, cinema, shows, concertos, exposições. As atividades culturais da cidade e do país são veiculadas em forma de cartazes que, harmoniosamente, são afixados nos murais das escolas. As escolas, por sua vez, estão representadas na sociedade pelos desenhos das crianças, que ilustram folders de hotéis, panfletos de lojas, a lista telefônica, existindo, ainda, a possibilidade de decorar lojas da cidade com “obras infantis”, num intenso movimento de diálogo e participação escola-sociedade.
A criança como protagonista de sua aprendizagem Diferente de muitos trabalhos dos quais temos conhecimento, as crianças, nas escolas de Reggio, se comportam como protagonistas nos projetos desenvolvidos; elas não são “atores” nos trabalhos desenvolvidos mas, sim, autores. A criança, em Reggio, é vista como competente, forte e rica – uma criança produtora e não apenas usuária de cultura. Essa postura ratifica a ideia de educação da infância e não educação pela infância, porque não é o adulto que faz para a criança. Ele é o mediador dos seus desejos e de suas necessidades. Nesse processo, a ambientação e o espaço físico são planejados para facilitar o diálogo e a comunicação entre os vários ambientes escolares. As plantas das escolas não têm um projeto único, mas valorizam um espaço central chamado de piazza, onde todos da escola podem se encontrar, e a cozinha como um local que simboliza a cultura italiana. Evitam a planta horizontal e eliminam os corredores por darem a impressão de hierarquização. Valorizam a planta que permita, com um único olhar, que toda a escola seja visualizada por todos.
Como a imaginação se destaca nesse universo educativo No trabalho dos professores de Reggio destaca-se, dentre outras coisas, o poder da observação como uma postura de valorização dada à criança, de validar sua curiosidade e de estimular nela o desejo de conhecer o mundo que a rodeia. Entende-se que a mais importante capacidade humana é a de imaginar, e isso, na proposta desenvolvida em Reggio, existe em abundância. Lá, o elemento criativo é imenso, a começar pelas salas de aula, que foram substituídas por grandes ateliês (ou acoplados a elas mini-ateliês), ricos em objetos diversificados, que aguçam o processo criativo e aumentam as experiências das crianças. Nos ateliês, elas podem manipular e trabalhar com botões, tecidos, velas, retalhos de papéis, diferentes tipos de grãos, sementes, pedaços de madeira, lã, além de objetos comuns em ateliês: mesas de espelho, mesas de luz, pincéis, diferentes tintas, cavaletes, tesouras, réguas, entre muitos outros. Esses recursos são livremente utilizados pelas criança e icluem, também, objetos apontados por nós como perigosos: vidros, arames encapados, tesouras com pontas..
O papel do adulto, tanto o professor como o atelierista, no processo de construção e levantamento de hipóteses do pensar sobre algo é criar possibilidades de concretizar as fantasias infantis. Em um dos projetos, o “Parque de Pássaros”, as crianças imaginaram como seria fantástico se os pássaros também tivessem um parque de diversões, uma fonte para se refrescar e outros brinquedos para os alegrar. A função do adulto, nesse caso, foi a de alimentar essa ideia e construir uma rede de parcerias com a comunidade: imprensa, os profissionais da área da construção _ o encanador, por exemplo _ e professores que utilizavam os desenhos e as ideias dos alunos e discutiam o processo de descoberta e desenvolvimento das crianças. Esses professores encorajam seus alunos a realizar experiências que, a princípio, parecem inviáveis para a escola. Em Reggio, os professores se utilizam dessas fantasias, encorajando as crianças a discutirem as possibilidades de realização de novos experimentos. Com isso, o professor aproveita as explicações e falas dos alunos como objeto de estudo do potencial infantil, para cultivar e promover o processo criativo, apontar a importância do respeito às ideias do outro e entender que as crianças criam verdadeiras teorias a partir de suas observações. Dessa forma, a liberdade de poder manifestar suas ideias as leva a se expressarem de maneira extremamente poética.
Anáile Abrahão
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Referência bibliográfica: Miranda, Heide. O imaginário nas escolas de Reggio Emilia. In: I Seminário Educação, Imaginação e Linguagens Artístico-Culturais. 7p.
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