domingo, 13 de novembro de 2016

Sobre a infância e seu tempo

Sobre a infância e seu tempo

Ah, a infância… como é bom admirá-la! Não há pressa. Não há tempo. Só o seu tempo interessa. Tempo de caminhar devagar, de observar, de tocar, de sentir. Tempo de sonhar.
Por que é tão bom observar as crianças em suas pesquisas, em suas descobertas, em suas indagações? As palavras de Alfredo Hoyuelos descrevem muito bem esse sentimento quando dizem que a infância nos comove por nos provocar a nostalgia de emoções aparentemente esquecidas. Segundo ele, as crianças nos fascinam por sua capacidade de transformar momentos cotidianos (e, muitas vezes, repetidos) em únicos, intensos e preciosos. E, para isso, precisam de tempo. De seu próprio tempo.
A pediatra Húngara Emmi Pikler escreveu um livro cujo título parece um grito reivindicativo da voz da infância _ “Deem-me tempo” _ num pedido para que não se antecipem os ritmos de desenvolvimento das crianças pequenas, aguardando, assim, o tempo de aprendizagem de cada uma. E é nesse esperar que, segundo Hoyuelos, surge o inédito, o surpreendente, e que devemos, como educadores, aproveitar esses momentos em sua plenitude, acolhendo-os e os registrando.
Portanto, devemos repensar o tempo que nossas crianças passam no ambiente escolar. Muitas vezes, 5,6, 10, 12 horas… o que propomos para elas nesse período? Que descobertas e aprendizagens estamos proporcionando? Faz-se muito necessário repensar o conceito de tempo das propostas escolares e, sobretudo, da organização da jornada escolar das crianças. Repensar o porquê de interromper bruscamente o que as crianças estão fazendo, interromper seu pensar, suas construções, suas brincadeiras, não deixando que as crianças deem o máximo de si, como disse Malaguzzi.
Sejamos como as crianças, que ainda têm olhos encantados. Vejamos cada momento, mesmo que familiar, como inédito em nosso cotidiano como educadores. Educadores de sentimentos, de desejos, de sonhos. Educadores do presente, não do futuro.
Anáile Abrahão
imagem4 Poema de Anáile Abrahão
Referência:
HOYUELOS, Alfredo. Los tiempos de la infancia. Disponível em:< http://ice2.uab.cat/jor_infantil_VIII/materials/conf2.pdf>.

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